Neste artigo discute-se como os gerenciadores de conteúdo impactaram a economia da informação e conhecimento
Discussão sobre a importância do WordPress na Economia Digital
RESUMO
O desenvolvimento de sites e projetos para web vêm passando por significativa mudança desde o advento dos gerenciadores de conteúdo. A produção de informação em larga escala colocou o conteúdo como o centro das atenções no que concerne à acessibilidade para criar, editar e desenvolver conteúdo de forma fácil, rápida e colaborativa, atendendo às necessidades de profissionais e usuários. Este inédito cenário permitiu que novos usuários, até então incapazes de participar ativamente, por limitações técnicas, tivessem acesso a ferramentas que lhes permitissem criar websites e soluções on-line para produção, edição e manutenção de conteúdo na internet. Este é o desafio que se impôs aos gerenciadores de conteúdo. O advento destes permitiu alterar significativamente diversos modelos (técnicos e de negócios) até então vigentes, fazendo surgir ambientes inteiramente novos de gestão de conteúdo sustentados pela economia da informação e conhecimento. Por este motivo, reconhecer o status das possíveis inovações trazidas à luz da Economia da Informação e do Conhecimento (EIC) pelo advento dos (web) Gerenciadores de Conteúdo (wCMS — Web Content Management Systems), especialmente do WordPress, baseado em comunidade aberta e sob a licença de uso, GPL v2 pode ser um ponto de partida interessante para abrir novas possibilidades de estudo dos CMSes no futuro, tanto em termos técnicos, como econômicos. A contraposição entre o modelo de desenvolvimento de softwares livres e o modelo de propriedade intelectual, bastante característico do período atual, são um ponto de partida interessante na busca por entender as questões apresentadas. Este artigo busca reconhecer os possíveis aspectos de inovação dos CMSes desenvolvidos com base em Comunidades Abertas de Inovação em detrimento do modelo baseado em Propriedade Intelectual, especialmente do WordPress, evidenciando os fatores relevantes para a EIC.
PALAVRAS-CHAVES: Economia da Informação e do Conhecimento, inovação, gerenciadores de conteúdo, WordPress, comunidades abertas
INTRODUÇÃO
Este artigo tem por objetivo reconhecer o status da inovação trazida à Economia da Informação e do Conhecimento (EIC) pelo advento do (web) Gerenciador de Conteúdo (wCMS — Web Content Management Systems) WordPress, baseado em comunidade aberta e sob a licença de uso GPL v2, em contraposição ao modelo de propriedade intelectual, bastante característico do período atual. O artigo está divido em 7 partes. A primeira parte apresenta aspectos relativos à Economia da Informação e do Conhecimento. Em seguida, a segunda parte apresenta a EIC centrada nos processos de inovação, elencando algumas de suas características atuais preponderantes, relativamente aos aspectos informacionais. A terceira parte apresenta a EIC sobre a perspectiva da propriedade intelectual (PI), tratando especificamente do impacto da sua escolha no processo de inovação. A quarta parte apresenta a EIC com relação às comunidades on-line abertas de inovação com foco em softwares baseados em licença GPL (General Public License — Licença Pública Geral), especificamente, sob a perspectiva dos gerenciadores de conteúdo para web (WCMS). A quinta parte apresenta os Gerenciadores de Conteúdo para Web (WCMS) e especificamente, trata do WordPress baseado em uma comunidade aberta, discutindo algumas relações com a EIC e com a inovação, além do surgimento de novos mercados e vertentes de comercialização de bens intangíveis a partir do advento de CMSes. E finalmente, a sexta parte discute as exposições realizadas anteriormente. A última parte apresenta a conclusão demonstrando a importância dos gerenciadores de conteúdo no cenário da EIC, notadamente por seus aspectos de inovação, em contraposição ao modelo de propriedade intelectual. A inovação tornou-se um fator de extrema importância no cenário atual das organizações que buscam se diferenciar no mercado competitivo de base tecnológica, sobretudo no ambiente da internet. A busca constante por formas inéditas de produzir e criar soluções colocou em foco novas formas de desenvolver e distribuir conteúdo, fazendo surgir um grande número de softwares e soluções criadas por comunidades abertas ao redor do mundo. A criação e o compartilhamento de conteúdo passaram a ser mediados por soluções de código aberto de diversos tipos, dentre elas, destacando-se os gerenciadores de conteúdo e de forma majoritária, o CMS WordPress. Estes softwares não só foram capazes de alterar significativamente a maneira de fazer e construir websites nos últimos anos, como também permitiram a inserção de milhões de pessoas no mercado de tecnologia. Profissionais de diversas frentes tornaram-se habilitados a produzir e divulgar conteúdo sem a necessidade de conhecimentos técnicos substanciais. Esta mudança de cenário significou a alteração de formas de criar, comercializar e compartilhar conhecimento, alterando de modo substancial diversos modelos de negócios baseados em tecnologia, revelando profissões e atividades inéditas até então. Os impactos econômicos causados pela ascensão destas novas ferramentas de gestão de conteúdo são enormes, demonstrando a importância do tema para a EIC, bem como para os estudos relativos à inovação em comunidades abertas e para novas formas de gestão, compartilhamento e distribuição de conhecimento, menos ancorados às questões relativas à propriedade intelectual. Este artigo irá tratar destes aspectos e suas relações com a EIC.
1. ECONOMIA DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO
Grandes e intensas mudanças tornaram-se comuns neste início de século, sustentadas por inovações de todos os tipos concebidas e distribuídas de forma cada vez mais veloz por todos os setores econômicos nas mais diversificadas atividades exercidas pelo homem. A ampliação de mercados e o surgimento de novos ambientes para o lançamento de produtos e serviços se abre a cada dia. Muitos deles, baseados em novas formas de organização, produção, arranjos em redes e expansão do comércio eletrônico. Para Foray e Lundvall (1996), a competência e a inteligência humana sempre foram, de algum modo, os fatores chaves para a evolução econômica das sociedades. As transformações ocorridas nos últimos decênios, face ao surgimento de novas formas de criação de produtos e serviços apresentam possibilidades de discussões centralizadas na Economia da Informação e do Conhecimento (EIC).
Em 1996, K. Arrow (1996) irá demonstrar aspectos importantes do sistema econômico em relação às teorias utilizadas para tratar da produção de conhecimento. Anteriormente, Stiglitz (1985) enfatizava a importância crescente do papel da informação, observando a necessidade do surgimento de novas formas de análise teórica para as transformações baseadas em conhecimento. O reconhecimento da importância da informação e do conhecimento tornar-se-á marcadamente importante a partir das análises feitas por autores como Joseph Schumpeter, Friedrick List e Adam Smith, que de formas diversas, ainda que implicitamente, passam a tomar estes temas em suas respectivas obras a partir de 1970. A escola neo-schumpeteriana irá apresentar modelos e análises com base na denominada “economia da inovação”, esta surgida em função da oposição à teoria neoclássica que procurava conceituar a tecnologia como um fator externo, tomando-a como uma mercadoria, desconsiderando o sentido econômico dos conceitos informação e conhecimento e da importância da sua inserção nos sistemas de produção.
De acordo com Schumpeter (1985), o surgimento de inovações passa por considerar o conhecimento a partir de uma nova perspectiva, diferente daquela até então praticada pela teoria neoclássica. Esses conceitos fundamentaram pensamentos sobre a interação dinâmica entre diferentes geradores de inovação e a consequente difusão dos processos inovadores, sejam estes tecnológicos ou organizacionais (Lastres, 1994). O paradigma tecno-econômico das tecnologias de informação e comunicação — TIC (Freeman, 1982) permitirá realizar uma análise mais apurada das radicalidades das transformações ocorridas na economia da informação e do conhecimento, baseadas no arranjo entre diversos aspectos de inovação, tanto organizacionais e institucionais, quanto técnicos. Este paradigma é amparado por três aspectos-chaves relacionado à inovação: vasta capacidade de aplicação, aumento crescente de consumo e redução constante do custo de cada unidade produzida. Em função do surgimento do paradigma técnico econômico das TIC, mudanças significativas passam a ocorrer na EIC em função da aparição de novas formas de criar, administrar e transferir conhecimento e inovação, na produção e na comercialização de bens e serviços, na implementação de novas estratégias e políticas de negócios e na organização das empresas e instituições. Além disto, ressalta-se o surgimento de inéditos modelos institucionais e profissionais a partir da emergência de novas capacidades demandadas destes modelos. Também ocorre a elevação de novos mecanismos capazes de promover a mensuração e a regulação de atividades econômicas totalmente inovadoras na EIC. De acordo com Freeman (1988), o novo paradigma técnico-econômico se destaca por algumas características importantes resultantes da ação do surgimento das tecnologias da informação e do conhecimento sobre a economia. Sejam elas: aumento do grau de complexidade das novas tecnologias e conhecimentos empregados pelas sociedades, aceleramento da aparição de novos conhecimentos, combinação ou recombinação de conhecimentos, celeridade nos processos de criação e adoção de inovação com a consequente redução dos ciclos de vida de produtos, serviços e processos. Também irá se observar alterações nos modelos de gestão e organização das empresas, a partir do aumento da flexibilidade e integração entre as diferentes partes ou setores da organização, como os departamentos de pesquisa e produção, administração e marketing, dentre outros. Ademais, passa a ocorrer a interligação entre empresas, passando a existir novos modelos de integração entre competidores na realização de pesquisas e busca por soluções em conjunto. Além disso, novos modelos de intervenção e regulação por parte dos governos passam a existir.
A economia baseada no conhecimento sustenta-se, com efeito, na capacidade de geração, armazenamento, recuperação, processamento e transmissão de informações atreladas às mais diversas atividades humanas. Estas características qualificam invariavelmente o conhecimento como a matéria-prima mais importante para os processos produtivos modernos (Peter Drucker, 1970). Desta feita, a economia da informação e do conhecimento (EIC) relaciona-se com a capacidade de geração e acúmulo de riquezas pelo acúmulo de capitais, salários e empregos a partir da utilização de dados e informações na geração, sobretudo, de inovação. Para Petit (1998), a EIC relaciona-se a todo sistema que produz, dissemina e interpreta informações. Dentro da perspectiva da EIC, a informação tende a ser considerada como um produto em si, ainda que esteja codificada ou inserida em processos, produtos ou serviços. Para Foray e Cowan (1998, p.323), a EIC é a economia da “codificação”, relativa à evolução dos estoques de conhecimentos tácitos e codificados, entre o que é tácito/secreto e a sua codificação/difusão. A informação, neste contexto, apresenta certas características, entre as quais: processo de rápida difusão, estreita relação com a capacidade de armazenamento e processamento observados pela queda de preços de processadores, espaço de armazenamento e largura de banda, ocorridos nos últimos anos. Além disto, é intrínseca a descentralização e simultaneidade de usos e de sua multiplicação em redes de diversos tipos, capazes de erodir as fronteiras das organizações e das firmas. Ainda para Petit (1998, p.343), a informação na EIC relaciona-se a um conceito corrente que “é a possibilidade simultânea e a diversidade de usos que se faz da informação em todas as suas formas e em todos os seus níveis e onde o valor é dado ao acesso como ao controle e à difusão da informação”.
Para Freemann (2005), a EIC apresenta maior desempenho exportador e capacidade de encurtar o tempo necessário para a introdução de novos modelos de inovação. Trata-se de uma economia de tecnologias mundializadas, permeável a todos os níveis familiares, capaz de atingir todos os setores de atividades econômicas. Para alguns autores, como por exemplo, Shane e Venkatraman (2000) e Kalakota e Robinson (1999), trata-se de uma nova economia em que as empresas fortes passam a ser as virtuais, como por exemplo, a Google, o Facebook e a Amazon, e tornam-se capazes de ameaçar e suplantar a liderança tradicional de empresas que não sejam essencialmente de base tecnológica, como se observa pela tabela 1 em que as três marcas mais valiosas do mundo são de empresas de segmentos ligados à tecnologia: Apple, Google e Microsoft, suplantando players que não são diretamente relacionados à EIC.
Tabela 1 — Comparativo do valor de marca das 10 maiores empresas do mundo. Fonte: Adaptado de (Forbes, 2009 e 2016)
Nos cenários da EIC, novas formas de competição e cooperação entre as empresas são possíveis e o desenvolvimento de inovação dentro de um nicho de mercado pode ser compartilhado até entre concorrentes. Destarte, a simplicidade e praticidade de comunicação proporcionada pela internet aos diversos agentes econômicos e que está criando novos modelos de transações, reconfigurando modelos mercadológicos e revolucionando a forma como as organizações realizam negócios. Embora a EIC seja permeada por aspectos que proclamem novos tempos, altos graus de lucratividade, acessibilidade informacional e visões românticas de uma nova sociedade informacional, há autores que defendem que as informações não fluem livremente entre as diversas nações, configurando assim forte assimetria informacional (Herscovici, 2011). Para Johnson e Lundvall, (2005), o processo de globalização não apresenta vantagens para todos os grupos sociais e regiões do planeta, devido à sua desigualdade e descontinuidade. Destarte, que países centrais no campo tecnológico e no domínio informacional têm por ciência que mais importante do que o acesso ao estoque informacional é a rápida capacidade de aprendizado de novos conhecimentos em detrimento de conhecimentos ultrapassados e repassados eficazmente para regiões e grupos menos favorecidos na escala competitiva. A EIC é fortemente marcada pelas transformações estruturais ocorridas nas atividades terciárias digitais, como por exemplo, o comércio eletrônico, o desenvolvimento de softwares e as aplicações para computação em nuvem, análise e comportamento do usuário, dentre outras, com forte dependência na difusão e tratamento de informações para o seu perfeito funcionamento. Trata-se de uma indústria fortemente dependente do complexo informacional, ainda que na forma de dados e informações, ou convertidos em conhecimentos capazes de gerar diferencial competitivo e inovação (Sassen, 2011). Outra característica marcante da EIC é a desconexão com o processo de mensuração de preços. O valor não está mais no preço e o significado e a marca assumiram grande importância na geração de valor para o consumidor. Assim torna-se difícil explicar através de preços, a variedade de produtos, a composição ou a disponibilização, transgredindo as formas de competividade até então praticadas.
Para Petit (2005), a economia da informação e do conhecimento é fortemente baseada em bens intangíveis, não-materiais, não-esgotáveis e não-deterioráveis. O consumo deste tipo de bem não os torna destruídos ou escassos, uma vez criados, podem ser reproduzidos e redistribuídos infinitamente a custos quase irrisórios. A EIC permite grandes retornos em escala obtidos através da produção e comercialização de produtos digitais a custos mínimos de reprodução e distribuição. De acordo com Hercovishi, 2011, uma característica intrínseca dos ativos computacionais da EIC relativa aos bens intangíveis é que os direitos de propriedade não se exaurem a partir do seu consumo, de tal forma que ideias e inovações podem ser ilimitadamente utilizadas e reutilizadas por diferentes agentes ao longo do tempo gerando novos lucros a partir da exploração de uso do produto em si e de novas versões incrementadas ou até mesmo completamente redesenhadas. Ao contrário do que ocorre com os bens tangíveis, na EIC, os produtos intangíveis não sofrem o risco da exaustão e da escassez. Neste sentido, notam-se recorrentes questionamentos acerca da legitimidade dos direitos de propriedade intelectual (Kenney, 1997). Alguns autores, como Morris-Suzuki, questionam a atribuição de direitos de propriedade de conhecimento à agentes inovadores tratados como indivíduos (ou um grupo de indivíduos) capazes de gerar conhecimento sozinhos, pois entendem que o conhecimento e a inovação são resultantes de um processo baseado em acumulação social e coletiva (Morris-Suzuki, 1997 e Hercovishi, 2011). Parte significativa dos ativos intangíveis da EIC baseia-se fortemente nos preceitos da Teoria Utilitarista para o controle das marcas e do capital intelectual, baseada no paradigma dominante como justificativa da propriedade intelectual (Perelman, 2014, Herscovici, 2011, Merges et al, 2010). Por outro lado, diversos autores defendem que não está comprovado que a propriedade intelectual é imprescindível para incentivar a criatividade (Landes, Posner, 2003), a inovação (May, 2000) ou a criatividade cumulativa (Perelman, 2002) tão características dos processos de inovação, como por exemplo, a inovação semi-radical e a inovação disruptiva. Diversos autores irão tratar das questões da inovação na EIC como processos mais bem-sucedidos quando compartilhados e coordenados diretamente em comunidades abertas em que o conhecimento seja tratado como uma construção social (Herscovici, 2011).
2. A EIC CENTRADA NOS PROCESSOS DE INOVAÇÃO
O processo de inovação está intimamente relacionado com a capacidade de empreendedores desenvolverem soluções capazes de melhorar de modo significativo o bem-estar. As inovações tecnológicas, portanto, referem-se à novas formas de produção e comercialização de bens e serviços baseados em conhecimento. A oportunidade para geração de novos negócios capazes de impactar a vida social surge da capacidade de empreendedores, que buscam de forma deliberada novas fontes de inovação (Peter Drucker, 1985). Os novos mercados pautados no advento de inovações na forma de criar, consumir e distribuir conteúdo digital são em grande parte resultantes da somatória entre criatividade e invenção, notadamente percursores e componentes essenciais dos processos de inovação. O processo de inovação está diretamente relacionado à geração de valor para o indivíduo, seja ele um cliente ou um usuário de um software. De modo geral, a inovação refere-se à inclusão de novos produtos, serviços ou soluções na cadeia econômica que sejam capazes de gerar valor, caracterizando aquilo que passa a fazer sentido de alguma forma para o usuário ou cliente de um determinado objeto, de forma que passe a afetar de modo significativo os modelos de negócio das organizações. De acordo com Nathan Shedroff, 2001, a geração de significado é a conexão mais profunda que pode ser estabelecida com o público de uma marca de um produto ou serviço. A inovação tornou-se uma necessidade para as empresas. Segundo Roger Martin (2006), a vantagem competitiva das empresas consiste em criar novos métodos de soluções de problemas cada vez mais complexos, antes dos competidores.
Segundo Davila, Epstein, Shelton (2007, p. 57), os tipos de inovação podem ser classificados em inovação incremental, inovação semi-radical e inovação radical ou disruptiva. A inovação incremental relaciona-se ao processo de modificação, melhoria, evolução, redução da complexidade, estabelecimento e fortalecimento de produtos, serviços, processo e atividades de produção e de distribuição. A maior parte das inovações encontra-se inserida nesta categoria. A inovação incremental parte de um pressuposto existente (produto ou serviço, por exemplo) e busca a melhoria continuada, ou seja, adicionar (incrementar) novas funcionalidades ou recursos gerando novas versões melhoradas (muito comuns nas aplicações da Tecnologia da Informação — TI). A inovação semi-radical relaciona-se com a introdução de novos produtos ou serviços no mercado de tal forma a permitirem o desenvolvimento de novos negócios. Também têm como consequência a expansão de novas indústrias, permitindo a criação de novos valores de mercado. Nas áreas relacionadas à TI é possível citar a alteração significativa nos modos de produção, comercialização e disponibilização de sistemas e websites ocorrida a partir do surgimento dos gerenciadores de conteúdo — CMSes (Content Management Systems) gerando um sistema totalmente inovador de trabalho e de geração de valor. As inovações disruptivas são aquelas capazes de causar alto impacto nas pessoas, geralmente, são surpreendentes. São resultados de estudos e investigação, em geral, científica. São chamadas de radicais ou revolucionárias porque trazem à tona algo que até então era visto como impossível pela maioria das pessoas. As inovações disruptivas criam algo inteiramente novo ou satisfazem uma necessidade até então desconhecida. Estas inovações radicais são capazes de alterar de modo significativo indústrias existentes ou gerar novos modelos industriais. O surgimento da internet e das redes de comunicação extremamente baseadas em TI é um exemplo deste tipo de inovação (Davila; Epstein; Shelton, 2006).
3. A EIC E A PROPRIEDADE INTELECTUAL
A ascensão dos direitos de propriedade intelectual (DPI) pode ser vista sob a perspectiva inicialmente empunhada para justificar os direitos de propriedade sobre bens tangíveis na chamada teoria utilitarista considerado o paradigma dominante para a justificativa da propriedade intelectual (Perelman,2014, Herscovici,2011, Merges et al, 2010). De acordo com Herscovici (2011), o período atual se caracteriza pelo significativo aumento dos direitos de propriedade intelectual caracterizado sobretudo pela ampliação da valoração econômica de capitais intangíveis, principalmente no âmbito de mercado, expresso na lógica do capital privado. Herscovici (2011) indica alguns parâmetros relativos à natureza da informação e do conhecimento, evidenciando que os bens e serviços relacionados a estes, não são exclusivos, não são rivais e especificamente no caso do conhecimento, são cumulativos. Neste sentido, a exclusividade relaciona-se à incapacidade de o agente produtor do conhecimento controlar de forma plena a apropriação e até mesmo a forma de uso desse conhecimento. Assim, esse conhecimento seria capaz de produzir diferentes efeitos positivos dos quais os agentes poderiam se apropriar, e que assim seriam denominados saberes abertos (Foray, 2000, p.80) correlacionados à existência de clubes e redes de conhecimento, também abertos (Herscovici, 2004). Para Herscovici (2011), quanto maior o grau de abertura da comunidade, maior o grau de conhecimento adquirido pelo grupo e melhor o grau de qualificação da externalidade produzida. A não-rivalidade está relacionada à indestrutibilidade do conhecimento, mesmo após a sua utilização. A capacidade cumulativa refere-se à capacidade de produção de novos conhecimentos a partir do conhecimento inicialmente disponível.
A “tragédia dos comuns” (Hardin, 1968) sobre a propriedade coletiva de recursos escassos que conduz à sua exaustão e o regime de propriedade privada como o único capaz de proteger eficientemente esses recursos pode ser vista como uma abordagem inicial, que fora utilizada para justificar as abordagens tomadas para os bens tangíveis. Entretanto, os direitos de propriedade sobre os bens intangíveis (imateriais) não tendem a exaurir devido ao consumo, uma vez que ideias e inovações poderiam ser utilizadas de forma ilimitada, por diferentes agentes sociais. De acordo com Landes e Posner, 2003, os objetivos das patentes, copyrights e sigilo comercial seriam o incentivo constante à produção e ao aprimoramento de novos produtos, o estímulo a novos inventores e criadores interessados no processo de criação e geração de inovação, aumento e promoção do desenvolvimento tecnológico e científico, todos imprescindíveis para incentivar o investimento das empresas em tecnologia e inovação. Segundo os autores, a ausência da proteção das patentes, poderia estimular o segredo comercial, de tal forma que inventores manteriam em segredo as suas criações. Desta maneira, ocorreria a redução do conhecimento disponível para a sociedade realizar novas pesquisas com a consequente redução de inovação. As patentes funcionariam combatendo esse custo social ao exigir como condição para a concessão de uma patente que o requerente expusesse os detalhes da criação. (Landes, Posner, 2003). Também, segundo a doutrina econômica tradicional, o objetivo das marcas registradas seria assegurar a integridade do mercado reduzindo a incerteza sobre originalidade e a fonte dos bens. Outra justificativa relaciona-se à proliferação de informações não confiáveis no mercado, segundo a qual o consumidor gastaria mais tempo e esforço pesquisando o mercado afim de inspecionar e testar produtos para identificar a originalidade, qualidade e reputação de produtos e serviços. Entretanto, alguns autores alegam se tratar de um de um problema de “assimetria de informação” (Landes, Posner, 2003).
De acordo Herscovici (2011), a existência de comunidades on-line pode funcionar como fator para avaliação da qualidade e assertividade dos produtos, com base nos fatores de experiência. Landes e Posner (2003) apontam para a importância da discussão sobre o direito de propriedade intelectual (PI) para além do discurso utilitarista evidenciando os custos sociais e as contradições relativas à questão. Para os autores a criação intelectual é um processo cumulativo em que cada criador de uma “nova” propriedade intelectual o faz a partir do trabalho de seus antecessores (Landes, Posner, 2003). Ressalta-se a discussão realizada por outros autores sobre a real necessidade da PI no processo de inovação (Albagli, Maciel, 2012). Outro aspecto relevante é que não está comprovado que a propriedade intelectual é imprescindível para incentivar a criatividade (Landes, Posner, 2003). A inovação tecnológica se deve à ampla disponibilidade de ideias e não à sua escassez ou proteção intelectual (May, 2000) e as leis de copyright inibem significativamente a criatividade cumulativa (Perelman, 2002). A exemplo do que ocorre nos ambientes de desenvolvimento de softwares livres e em comunidades abertas de inovação, sobretudo, as recentes comunidades de desenvolvimento de aplicações on-line, como os softwares para gestão de conteúdo, a exemplo do WordPress, em que a inovação se dá pelo compartilhamento constante de novas ideias. Ainda, segundo (Albagli, Maciel, 2012), as leis de propriedade intelectual inibem a inovação, pois criatividade e inovação são frutos do compartilhamento, abertura e coletivização. Para estes autores, o conhecimento é visto como construção social.
4. A EIC E AS COMUNIDADES ON-LINE DE INOVAÇÃO
De acordo com Herscovici (2011), os mercados diretamente relacionados à informação e ao conhecimento irão se caracterizar por fortes assimetrias informacionais entre seus participantes. Isto porque, segundo o autor, os produtos e serviços relacionados a estes mercados, em função de sua alta complexidade e da quantidade de conhecimento embutidos, são denominados bens de experiência (experience goods). Portanto, a utilidade destes produtos só poderia ser, de fato conhecida, no ato do consumo. Para o autor, tal particularidade, demonstra a dificuldade em se utilizar o sistema de preços tradicional como forma de caracterizar a qualidade destes bens de consumo (produtos ou serviços). Desta forma, os limites relativos à incapacidade de avaliação dos sistemas de preços tradicionais teriam que ser compensados por outros mecanismos de avaliação, capazes de reduzir as incertezas relativas à qualidade. O autor cita as diferentes comunidades on-line como sendo um destes mecanismos, pois em tese, seriam capazes de compensar as falhas dos sistemas de preços, reduzindo a dubiedade em relação à qualidade dos produtos de consumo. Também funcionariam como um recurso capaz de realizar a diferenciação dos produtos a partir de uma lógica de marca. Esta nova abordagem permite criar o chamado capital simbólico em que se evidencia a utilidade social para gerar aprovação e valoração de produtos e serviços.
O conhecimento tomado como construção social passa pela perspectiva de que a criação intelectual é um processo cumulativo em que cada criador de uma “nova” propriedade intelectual o faz a partir do trabalho de seus antecessores (Landes, Posner, 2003). De tal forma que cabe ressaltar o questionamento acerca de a quem cabem os direitos de propriedade de uma ideia inovadora, tendo sido esta inexoravelmente constituída pelo acúmulo de ideias e proposituras ocorridas ao longo do tempo por uma comunidade de membros. “Marx acreditou que […] o trabalho universal seria a chave para o desenvolvimento […] as pessoas precisam ter a oportunidade de desenvolver habilidades livremente e cooperar com os demais” (Perelman,2014, p.111). Neste sentido, (Perelman,2014, p.108) questiona o fato de que o Estado subsidia diretamente boa parte do trabalho universal, mas ainda assim, como Estado capitalista, se recusa a tornar os resultados do trabalho universal disponível a todos.
5. GERENCIADORES DE CONTEÚDO, INOVAÇÃO E A EIC
Os sistemas de gerenciamento de conteúdo especializados para websites, denominados WCMS (Web Content Management System) são softwares capazes de permitir a autoração completa ou parcial de um website através de ferramentas e recursos colaborativos e administrativos. Através deles é possível a geração e edição de conteúdo para internet sem o conhecimento prévio e avançado de linguagens de programação e marcação de texto, como HTML (Hyper Text Markup Language — Linguagem de Marcação de Textos) e CSS (Cascading Style Sheet — Estilo de camadas em cascata). Objetivamente, um WCMS permitirá a construção e manutenção de um website sem habilidades de programação. Os CMSes podem ser considerados uma das mais promissoras invenções da tecnologia aplicada à internet na última década. O mercado de gerenciamento de conteúdo deve passar dos 9 bilhões de dólares em 2018, segundo dados da consultoria radicati[1]. Números recentes apontam dados significativos relativos ao consumo de CMSes, sobretudo, open sources. Segundo, W3Techs[2], aproximadamente 63% dos websites do planeta fazem uso de algum tipo de CMS. Os CMSes são softwares, em sua maioria, baseados em web, desenvolvidos com o objetivo de facilitar a criação, recuperação e edição de informação e conhecimento em forma digital, incluindo material bruto, semiprocessado ou processado completamente, como texto, imagens, vídeos, gráficos, animações, áudio, vídeo, postagens em redes sociais, comentários em blogs e outros, editáveis em tempo real ou não. O CMSes podem ser descritos como sistemas que fornecem conjuntos de ferramentas e procedimentos para gestão do fluxo de trabalho sobre e para a informação em um ambiente colaborativo.
Os gerenciadores de conteúdo típicos funcionam com base em scripts de execução em um servidor baseado em linguagem de programação PHP, como Apache Linux com suporte de banco de dados, em geral, na linguagem de banco de dados MySQL, ambos de código aberto, conferindo dinâmica e sustentabilidade ao website. A publicação e edição de conteúdo, adição e remoção de funcionalidades e configurações se dá através de um painel administrativo chamado backend. O conteúdo editado estará disponível na camada visível para o usuário final, denominada frontend (parte frontal do website). As funcionalidades e habilidades de cada WCMS irão variar muito em função de vários aspectos e sobretudo do fim a que se destina o gerenciador de conteúdo. Existem, portanto, WCMSes com foco em diversas situações e necessidades, que vão desde a publicação de conteúdo textual e midiático, até a oferta de produtos para compras em lojas virtuais robustas que recebem milhares de usuários ao mesmo tempo. Em princípio, um WCMS tem como principal função permitir que pessoas sem habilidade de programação possam publicar conteúdo de maneira automatizada e colaborativa. De modo geral, um WCMS possui as seguintes características:
- Templates: permitem a troca da aparência do website de forma automatizada.
- Controle de acesso: permite a criação de perfil para diversos tipos de usuários que vão desde capacidades administrativas globais a atividades de edição de conteúdo.
- Expansão e escalabilidade: capacidade de expandir-se em múltiplos domínios e se transformarem em plataformas multi-sites gerando ambientes multi-diversificados.
- Funcionalidades: a maioria dos WCMSes possuem a capacidade de ampliar suas características e funcionalidades através da adição de plug-ins ou módulos adicionais.
- Atualizações: atualização constante de recursos e capacidades de forma simples.
- Colaborativos: criação e edição de conteúdo de forma colaborativa por grupos de usuários.
- Gestão de conteúdo versionado: WCMSes permitem o controle de versões de conteúdo publicado permitindo a revisão, republicação e alteração a qualquer tempo.
- Multilinguagem: utilização de múltiplos idiomas em um único site.
- Responsividade: conteúdo acessível em dispositivos móveis.
Entre as principais vantagens do uso de gerenciadores de conteúdo destacam-se:
- Baixo custo: os WCMSes mais populares são desenvolvidos e oferecidos gratuitamente para download, em geral sob licença GPL. Atualizações e novas funcionalidades são acrescentados e distribuídos de maneira consolidada por uma comunidade ao redor do software.
- Facilidade de customização: um dos grandes diferenciais dos WCMSes é a facilidade para executar personalizações estruturadas no frontend dos sites, ou seja, alterar o design (layout-visual) ou até mesmo funcionalidades.
- Fáceis de usar: WCMSes são projetados com foco em pessoas. Portanto, tendem a possuir interfaces fáceis e intuitivas que permitam a edição de conteúdo por parte dos usuários sem conhecimentos técnicos avançados ou formação técnica específica. De forma geral, são auto instrutivos, de aprendizado rápido e acessível.
Dados coletados demonstram que aproximadamente 23% dos CMSes atuais correspondem ao CMS WordPress[3], o que equivale a uma taxa de Marketing Share de 61%. Atualmente, há mais de 78 milhões de sites ao redor do mundo funcionado baseados na plataforma WordPress. O que corresponde há mais de 409 milhões de pessoas acessando 20 bilhões de páginas por mês[4], construídas e gerenciadas através deste CMS. Ou ainda, equivale a dizer que 52,8 milhões de novas postagens e 48,6 milhões de novos comentários e interações circulam a cada mês na internet baseadas em WordPress. Espera-se que em 2020 50% dos sites do planeta sejam baseados no WCMS WordPress[5]. O Brasil está entre os 10 maiores consumidores da plataforma, ocupando o 4º lugar dentre as 10 línguas mais utilizadas[6]. Excetuando-se ainda, as instalações que se encontram em outro idioma, sobretudo inglês, mas são mantidas e administradas por brasileiros. O repositório da WordPress.Org conta com mais de 42.000 plugins homologados e quase 1.148.843.047 downloads[7] já efetuados, excetuando-se aqueles que são comercializados e vendidos por empresas fabricantes de temas e plug-ins (plugin factories) e que se encontram em outros repositórios de organizações privadas. Há ainda 1700 temas gratuitos para download no site da WordPress, excetuando-se aqueles criados e comercializados, também por empresas especializadas (theme factories). O site wordpress.com é 18º site mais visitado no mundo, segundo a Automatic, empresa criadora do CMS WordPress. Ainda de acordo com a empresa, 55% dos 1 milhão de sites mais visitados no mundo, baseados em CMS são executados em WordPress. O fórum da comunidade WordPress, disponível no endereço eletrônico wordpress.com tem aproximadamente 1.106 tópicos e 6.106 posts relativos à discussão sobre o próprio CMS WordPress, plugins, recursos, temas, além de debates sobre a evolução da plataforma, correção de erros e solicitações dos usuários à comunidade de desenvolvimento. Empresas de porte significativo, inclusive do mercado de comunicação, utilizam ou utilizaram em algum momento, plataformas de gerenciamento de conteúdo, como WordPress, Joomla ou Drupal: CNN, Globo, Time, Harvard, Linux, Mc Donalds e NBC, além de diversas outras, em segmentos muito diversificados como saúde, educação, e-commerce, design, etc.
Cabe destacar que o CMS WordPress faz parte da classe dos gerenciadores de conteúdo concebidos para criação de websites e é seguramente o mais adotado e preferido por profissionais responsáveis pela criação e desenvolvimento de websites e também por usuários não técnicos. Cabendo ressaltar ainda a sua significativa vantagem frente aos demais gerenciadores. Há uma clara tendência mundial relativa ao desenvolvimento de websites: a criação de websites ser realizada a partir de gerenciadores de conteúdo com base em plataformas open source como o WordPress. Os números sugerem que a tendência natural é a redução da produção de sites e projetos “a partir do zero”, caminhando para soluções suportadas por código-fonte já conhecido e fundamentado, reduzindo significativamente os custos de investimento e tempo de produção. O WordPress, em sua recente história foi concebido para ser inicialmente um software de blog[8]. Durante algum tempo, o WordPress não foi dotado de características suficientes para ser considerado um verdadeiro CMS. Entretanto, acabou por se tornar um sistema robusto e hoje é uma referência quando se trata de gerenciamento de conteúdo, desenvolvimento e criação de websites.
Parte significativa da ascensão dos gerenciadores de conteúdo, sobretudo do WordPress, se deve à comunidade que se estabeleceu ao seu redor, fomentando e contribuindo para a sua evolução de modo gradativo, escalar e substancial. O WordPress é um software distribuído sob a licença GPLv2[9] com base na Fundação Software Livre (Free Software Foundation)[10]. GPL é acrônimo de General Public License (Licença Pública Geral). Esta é a designação de licença de software livre idealizada por Richard Mattjew Stallman, em 1989, no projeto Free Software Foundation e que tem por objetivo garantir a liberdade de compartilhar e modificar softwares livres[11]. A GPLv2 é a segunda versão da licença GPL, atualizada e lançada em junho de 1991[12]. Em termos gerais, uma licença GPL baseia-se em 4 liberdades básicas: execução do software para qualquer propósito; estudar e avaliar o software e adaptá-lo às necessidades do interessado a partir do acesso ao código fonte (condição e requisito fundamental da licença GPL); redistribuição de cópias, inclusive com alterações da estrutura inicial e aperfeiçoamento do software de modo que a comunidade que usufrua da solução possa se beneficiar[13]. Atualmente, a versão mais recente da GPL é a GPL v3[14], publicada em junho de 2007.
Os CMSes e propriamente, os WCMSes (Web Content Management Systems) passaram a despertar interesse significativo em diversos segmentos da cadeia produtiva de websites, sistemas para internet e outros relacionados às novas TI, sobretudo devido à sua flexibilidade, agilidade, escalabilidade, facilidade de implementação e capacidade de adaptação à diversas situações e necessidades. Outra grande vantagem das aplicações com foco em gestão de conteúdo é que estas recebem a adição de novas funcionalidades a cada dia, suportadas pela enorme cadeia de plug-ins e recursos inovadores desenvolvidos por empresas e comunidades espalhadas por todo o planeta. Também a adoção de Web Services e XML vêm tornando a manipulação de conteúdo mais eficiente. A neutralidade vem sendo adotada com grande intensidade, reforçando a percepção da necessidade de reaproveitamento de dados em multiplataformas (sistemas operacionais diversos) e multidevices (Iphone IOS, Android, etc.) reforçando a reformatação e a reciclagem de dados e de conteúdo. Segundo Frost e McGrane (2012), os CMSes do futuro tendem a tratar o conteúdo como a água que pode ser distribuída facilmente por diversos recipientes sem perder as suas características básicas.
Os primeiros WCMSes eram considerados plataformas instáveis e inconsistentes. No início apresentavam certa dificuldade de atualizações, além da baixa usabilidade. Muitos os renegaram e os consideraram difíceis de usar, com pouca fluidez, apresentando padrões de funcionamento rígidos e complexos. O que por muitas vezes comprometia significativamente a visão artística de webdesigners e criadores. A tendência até então era de modelos de estrutura muito fechados com pouco apelo estético, dificuldade de modificação e uma lógica de apresentação visual e de conteúdo muito pouco flexível. Outro fator de dificuldade relacionava-se ao grande número de distribuidores de gerenciadores de conteúdo. Cada um deles focado no seu próprio fluxo de trabalho, conjunto de modelos e comunidade. Ao longo dos anos o fluxo de desenvolvimento e criação nas agências de design e empresas de desenvolvimento de websites e soluções para internet sofreu grandes transformações. Entretanto, desde o início, este fluxo esteve preso a um ciclo de trabalho estruturado ao redor de soluções sustentadas por um processo ainda complexo, extremamente dependente de questões técnicas e recursos financeiros relativamente substanciais. Um fluxo de trabalho amplo e repleto de personagens era necessário para que um projeto de website simples, de poucos páginas viesse a ocorrer. Historicamente, no início do Webdesign, um fluxo de trabalho típico para construção de um site ou projeto web seria reunir um time de profissionais, realizar um brainstorm e coletar ideias que eles teriam sobre a concepção do website e o que desejariam realizar. Posteriormente, convidar um webmaster ou uma equipe de profissionais para realizar um filtro das ideias propostas, de tal forma que ao final este reduziria as expectativas possíveis de realizações sobre as metas iniciais. Considerando ainda os fatores como dificuldade de realização das proposições, do fluxo de trabalho e da mão de obra especializada necessária para colocar em prática tudo que foi pensado, tratava-se de uma peneira considerável para que um projeto de criação, por exemplo, de websites, pudesse se consumar. Além disto, o custo de desenvolvimento era significativamente maior do que o esperado. As dificuldades desta época não paravam por aí. Adicione-se à lista, situações tais como: um erro de digitação ocorreu ou uma imagem não foi tratada convenientemente; existe a necessidade de atualizar uma página ou conteúdo; uma nova funcionalidade passou a ser necessária. Tudo isto demandava novamente a contratação de um ou mais profissionais para atualização ou correção.
Em um cenário como este, provavelmente, o webmaster seria requisitado a solucionar as demandas. Suponha que o webmaster não estivesse mais disponível e que se fosse necessário contratar outro profissional. Este novo profissional informa à empresa que o website (projeto em questão) precisaria ser redesenhado, que os códigos estavam desatualizados e que as propostas e realizações anteriores não foram boas o suficiente. Novamente, o ciclo recomeçava, agora sob a chancela de um novo profissional. Este era e ainda é o cenário de desenvolvimento e criação de projetos para internet de muitas empresas. Um cenário pautado em um fluxo de desenvolvimento de atividades que depende única e exclusivamente do perfil profissional de alguns poucos elementos da organização. Uma realidade de produção, criação e desenvolvimento atrelada de modo significativo a um fluxo de trabalho fechado e pouco sociabilizado, caro, dependente de questões técnicas, hermético e com baixo potencial de inovação. Por outro lado, um cenário de criação que possa solucionar estas questões pode ser entendido como dotado de algumas características relacionadas à gestão de conteúdo com base na implementação de WCMSes, levando em conta algumas vantagens e diferenciais:
- Custo de implementação: em geral, WCMSes são open sources suportados por uma comunidade de desenvolvedores, gratuitos para instalação e uso.
- Unificação de códigos: WCMSes são baseados em código aberto, como PHP e SQL tornando a escolha de profissionais para atuação neste cenário menos cara e desgastante.
- Atualização constante: os WCMSes mais populares e conhecidos possuem ao seu redor enormes comunidades de participantes que regularmente contribuem para a correção de erros e bugs, evolução do código e adição de novas funcionalidades. Isto permite que o projeto se mantenha constantemente “vivo” e em crescimento.
- Variedade de recursos: WCMSes fornecem uma plataforma com inúmeras funcionalidades capazes de desenvolver e criar websites e soluções inovadoras de forma relativamente rápida e fácil. Desta forma, o foco passa a ser o conteúdo e não mais a estruturação constante do projeto.
- Responsabilidade de desenvolvimento: do ponto de vista do cliente, uma das maiores vantagens dos WCMS refere-se ao fato de que o conhecimento sobre a plataforma se encontra distribuído, sendo de domínio público, facilitando assim, a contratação de novos profissionais.
- Editabilidade: os WCMSes trouxeram para os usuários finais, eventualmente clientes, a facilidade de lhes permitir editar, alterar e adicionar conteúdo por si próprios, sem a necessidade de contratação de um profissional especializado para executar tal tarefa.
- Comunidade e suporte: os CMSes mais populares são mantidos por comunidades de desenvolvedores capazes de prover suporte em fóruns e ambientes virtuais, distribuindo constantemente informações sobre correções, melhorias, erros e ajuda aos seus participantes.
Estas características tendem a aproximar os dois lados do processo, desenvolvedor e cliente, criando um cenário completamente novo e diferente do anterior, onde existe um fluxo com início e fim bem claros. Neste novo contexto, o fluxo é constante, reaproveitável e evolutivo. O website passa a tornar-se uma estrutura viva que evolui constantemete e pode ser mantido e suportado por um número muito mais amplo de profissionais. O princípio da sociabilidade passa a vigorar em várias vertentes, desde o momento em que permite uma maior participação de todos no processo de construção das soluções até o ponto em que permite a publicação e distribuição de conteúdo a um número maior de usuários, sem grande experiência na criação de sites. Os dois lados do processo passam a usufruir de benefícios interessantes tais como permitir a cada parte compreender melhor as necessidades e fluxos de trabalho, resultando em um melhor relacionamento entre setores tradicionalmente segmentados.
6. DISCUSSÃO
Os CMSes, em si, são resultado de uma construção social do conhecimento. Conforme citam Landers e Posner (2003), o conhecimento tomado como construção social é um processo cumulativo obtido previamente e que funciona como mola propulsora para as novas criações que virão em sequência. O CMS WordPress é um exemplo de conhecimento obtido, criado e alimentado através da construção de um processo cumulativo baseado em uma comunidade socialmente ativa capaz de gerar novas ideias em um fluxo contínuo, renovado e autossustentável. As ideias de novas funcionalidades, os novos modelos de produção, entrega, serviços e possibilidades que se abrem são frutos de um processo inteiramente inovador propiciado pela existência de uma comunidade de colaboradores que suportam um ativo digital sob licença de código aberto.
Conforme cita Herscovici (2011), o capital simbólico ao redor de um produto ou serviço é um recurso capaz de diferenciá-los no que se refere às condições de valor e importância para um grupo de utilizadores. O CMS Worpdress é suportado por uma comunidade de usuários, boa parte deles, desenvolvedores de softwares especializados ou semiespecializados na criação de produtos ou serviços para internet. Esta comunidade que sustenta a evolução da plataforma funciona como um trampolim capaz de permitir a geração de mais e mais capital simbólico ao redor do CMS, conferido ao mesmo força e valorização diante daqueles que já o utilizam e dos que estão por conhecê-lo. O que se evidencia pelos números de downloads, acessos e amplas discussões na base de dados on-line da WordPress é a existência de uma comunidade crescente e atuante, capaz de gerar inovação em diversas vertentes.
Para Herscovici (2011), quanto maior a abertura de uma comunidade, mais bem-sucedido é o conhecimento resultante e adquirido pelo grupo, gerando externalidades qualificadas. O sucesso do CMS WordPress, fundamentado pelo expressivo número de usuários da plataforma, pela enorme comunidade que suporta a sua evolução e pelo grande número de negócios e empresas que funcionam com base na plataforma é resultado de uma comunidade aberta ativa e atuante, reforçando os princípios da EIC sob a perspectiva de comunidades em contraposição a modelos fechados de DPI. Este resultado é justificado em grande parte pela escolha de um modelo que privilegiou desde o começo a inovação a partir da licença de uso de código aberto GPL. A escolha deste formato de distribuição não só teve impacto no que se refere à abertura do código-fonte, permitindo a interação entre desenvolvedores de softwares e membros da comunidade, como também funcionou como um gatilho de inovação. Ao contrário, do fechamento presente no modelo de propriedade intelectual, restritivo ao processo de inovação, a abertura proporcionada pelo modelo escolhido no caso do CMS WordPress acabou por desencadear uma série de inovações, tanto em nível de criação de soluções para serem acopladas à plataforma (plugins e temas), quando no que diz respeito aos diversos tipos de sites, produtos, interfaces, blogs e até sistemas criados a partir do próprio WordPress, novamente característicos da EIC.
A dificuldade de preservar as formas coletivas e colaborativas de produção do conhecimento esbarra na modalidade de apropriação de renda que permanece privada. Herscovici (2011, p.248), menciona o fato de que o copyleft e os creative commons representam transferências de direito, mas que não gerariam fluxo monetário para os participantes do sistema. Num cenário em que o trabalho universal tornou-se atualmente a maior força que sustenta o sistema endógeno do direito de propriedade intelectual (Perelman, 2014, p.105), cabe ressaltar que os sistemas de comunidades constituídas ao redor de softwares criados em redes, como os CMSes e mais especificamente, o WordPress, fazem emergir um modelo de produção diferenciado, em que é possível observar uma distribuição do capital de forma bastante inusitada, gerando assim, um formato de criação inovador e interessante para todos os envolvidos, baseado em licenças de uso GPL (General Public License — Licença Geral de Uso), gerando estabilidade e fluxo financeiro a todos os envolvidos.
A citação de Marx sobre a cooperação entre as pessoas: “as pessoas precisam ter a oportunidade de desenvolver habilidades livremente e cooperar com os demais” é de certa forma muito bem contemplada na criação de softwares livres a partir da colaboração em comunidades, como ocorre com o WordPress. Um conjunto de milhões de contribuições realizadas ao longo do tempo nos fóruns da comunidade é um dos fatores que pode demonstrar a capacidade de cooperação em comunidade em prol de um objetivo comum. Parte substancial da estrutura básica do WordPress (comumente denominada de core) foi desenvolvida ou evoluiu a partir do suporte de uma imensa comunidade de usuários interligados ao redor do mundo. Naturalmente, os resultados obtidos através deste processo de entrelaçamento de ideias e interferências é divido entre todos que fazem parte do jogo gerando retorno aos participantes e até para aqueles que não participam diretamente. O resultado é distribuído em uma equação em que todos ganham. A empresa mantenedora da solução que aufere lucros pela responsabilidade de gerenciar o projeto, a comunidade que usa a plataforma para criar projetos e soluções inovadoras e a até empresas terceiras que produzem novas soluções para serem agregadas ao CMS e que são comercializadas com base na licença de uso GPL. Cabe ressaltar que a licença GPL não impede o desenvolvimento de novas soluções com base em uma solução de código aberto. De acordo com (Peter Drucker, 1985), o processo de inovação está intimamente relacionado com a geração de valor para o indivíduo. É evidente observar a importância alcançada pelo modelo de negócio relacionado ao CMS WordPress. Um modelo capaz de gerar valor em diversificadas frentes de consumo, seja pela participação da comunidade na busca de novas funcionalidades, seja nos formatos de criação de novas soluções para serem acopladas ao CMS (plugins, temas, códigos), seja pela gigantesca cadeia de novos negócios que surgiram a partir do advento da ferramenta (por exemplo, hospedagens especializadas, SAAS — Software as a Service — com base em WordPress), ou ainda pela própria inovação ocorrida nos modelos de produção, criação e manutenção de websites e propriamente de conteúdo na internet a partir do uso do WordPress.
A análise da economia da informação sob a perspectiva dos CMSes passa necessariamente pela atenção aos aspectos da propriedade intelectual (PI) nos dias atuais, nos modelos de governança de mercado, e das práticas associadas aos modelos de negócio de adoção destas tecnologias no universo corporativo. Evidentemente que em um modelo de mercado aberto como o que o WordPress se encontra, com alto grau de complexidade, tendo em vista a substancial quantidade de agentes e externalidades envolvidas, torna-se difícil mensurar o tipo e o grau de inovação em questão. A medição do caráter de inovação é um processo complexo. Não há um consenso entre autores sobre uma forma consolidada ou mesmo escalar de medição do grau de inovação. Cabe ressaltar, a expressiva mudança ocorrida no ambiente de desenvolvimento e criação de projetos para internet a partir do advento dos CMSes. A alteração do cenário no que se refere ao modo de fazer, criar e consumir conteúdo a partir do uso de CMSes colocou no plano econômico um enorme volume de novos agentes, que passaram a se tornar capazes de criar e desenvolver seus próprios ambientes digitais. A gestão de conteúdo tornou-se acessível a um número muito maior de participantes do ecossistema digital, caracterizando uma significativa mudança do cenário no que se refere à EIC. Novos modelos de negócio, consumo, contratação e formas de fazer surgiram e permitiram a ascensão de uma forma inteiramente inusitada de trocas, com base em comunidades de inovação, em um formato de consumo em que todos usufruem dos benefícios.
Conforme citam Landes e Posner, 2003, ainda não se pôde comprovar que a propriedade intelectual seja imprescindível ao processo de criatividade e inovação. Por outro lado, os dados sugerem que a criação com base em comunidade como a relacionada ao WordPress é no mínimo capaz de despertar a atenção para fatores que os autores consideram inovadores, ainda que não se possa identifica-los como incrementais, radicais ou até disruptivos sem um aprofundamento científico para a questão, como por exemplo, um estudo de caso. Os resultados alcançados com o advento dos CMSes para a EIC são no mínimo dignos de atenção. Conforme cita Nathan Shedroff, 2001, em seu livro Experience Design, a inovação refere-se à inclusão de novas soluções capazes de gerar valor, capazes de caracterizar algo que faça sentido para o usuário, algo capaz de alterar o modelo de negócio das organizações. Os CMSes não só foram capazes de trazer novos modelos de negócios às empresas e organizações que lidam com conteúdo na internet, como também alteraram significativamente a posição do usuário no cenário digital, colocando-o em uma situação de destaque no controle do conteúdo, fazendo-o assumir um papel ativo, sem a necessidade de possuir grande arcabouço técnico para ter acesso à produção e distribuição da informação. Trata-se de uma democratização de acesso, ainda que residual, resultante dos aspectos relacionados à EIC, no que tange ao surgimento destas novas ferramentas.
7. CONCLUSÃO
Um número cada vez maior de softwares especializados na gestão de conteúdos on-line tem surgido. Os CMSes permitiram aos usuários de diversos níveis e conhecimentos técnicos distribuírem conteúdo digital na internet. Os números relativos aos CMSes são significativamente consideráveis e já mensuráveis em sua intangibilidade, tanto em termos de Market Share, quanto em termos financeiros e de adoção por parte de usuários ao redor do mundo, o que de certo modo caracteriza substancial importância destes softwares dentro na EIC. O advento dos CMSes trouxe à tona uma série de novos negócios e empresas especializadas em segmentos específicos surgiram em função da disponibilidade de novos recursos providos pelos CMSes. Novos modelos de negócio tomaram proporções financeiras consideráveis fazendo surgir ecossistemas especializados na criação e comercialização de partes destes softwares. Comunidades inteiras de usuários, desenvolvedores e criadores de soluções a partir de CMSes sugiram, fazendo emergir um cenário inteiramente inovador baseado e sustentado pelos Content Management Systems.
Lojas virtuais, blogs, websites, portais, distribuidoras de conteúdo, televisões, grandes canais de comunicação e até pequenos sites tornaram-se subsidiados pela existência, evolução e ascensão dos CMSes. Empresas de diversos segmentos foram e ainda são exemplos notáveis do uso e implementação de projetos web baseados em CMSes. Negócios digitais de variados calibres surgiram e continuam a surgir diariamente, sustentados pela força dos CMSes. Parcela significativa deste sucesso se deve às comunidades ao redor destes projetos. Muitos dos CMSes atuais mais bem-sucedidos são projetos de código aberto suportados e mantidos por comunidades de desenvolvedores, que num ciclo de retroalimentação contribuem para a evolução destas plataformas e dela se baseiam para gerar novos negócios. Empresas de softwares criam negócios inteiramente baseados em CMSes, como o WordPress, para venda e comercialização de temas, plugins e outras soluções totalmente voltadas para CMSes, ou ainda, simplesmente, para a criação de websites que vão desde simples sites institucionais de cinco páginas a projetos complexos de milhares de páginas em segmentos diversos. Há casos de gerenciadores de conteúdo sendo utilizados em sites de televisões, rádios, jornais, hospitais, bibliotecas, projetos educacionais, e-commerces, portais corporativos, fóruns, comunidades, redes sociais, turismo e viagens e uma infinidade de outros tipos de segmentos, demonstrando a força destas ferramentas na EIC.
Atualmente, é possível desenvolver projetos de diversos tipos, de baixa a média complexidade, em segmentos diversificados, a partir do uso gerenciadores de conteúdo. Em alguns casos, projetos de extrema complexidade são possíveis, como por exemplo, o site edublogs (edublogs.com), com aproximadamente mais de 3 milhões de usuários alocados na mesma base de dados de um único gerenciador de conteúdo. Existem pelos 50 tipos de CMSes que se prestam à mais diversificadas finalidades que vão desde a criação de sites, gestão de bibliotecas e até e-commerces de larga escala, caracterizando um setor econômico extremamente versátil e inovador dentro da EIC. É inegável o potencial inovador dos gerenciadores de conteúdo, tanto em nível tecnológico, quanto no que se refere à novos modelos de uso, produção, acesso e abordagem cognitiva. Um dos aspectos inovadores mais significativos do CMSes foi a capacidade de alterar substancialmente o cenário de criação, administração e distribuição de conteúdo digital na internet. Através de um possível processo de inovação semi-radical, os CMSes foram capazes de colocar o usuário em uma nova vertente: o de eles próprios se tornarem capazes de criar, gerir e distribuir conteúdo. Até então, era preciso que profissionais especializados em programação e edição de páginas web fossem acionados para que um conteúdo pudesse ser colocado à disposição para acesso na internet. O advento dos gerenciadores de conteúdo trouxe aos usuários a liberdade de criação e distribuição de seus próprios conteúdos digitais. Rompeu-se uma barreira técnica que impossibilitava o acesso a recursos até então disponíveis somente para especialistas em criação de websites, dentro de um modelo ainda tradicional de fluxo de trabalho.
Talvez a contribuição mais significativa tenha sido o surgimento de um mercado inteiramente novo e baseado em CMSes. A inovação incremental trazida na economia da informação e do conhecimento pelos CMSes é um aspecto que merece atenção e um olhar científico consistente, afim de investigar as eventuais implicações deste novo cenário ocorrido a partir do advento dos gerenciadores de conteúdo, em especial do WordPress. Espera-se que nos próximos anos, os CMSes como o WordPress, assumam cada vez mais um papel de destaque nos ambientes digitais, sobretudo em função da capacidade de edição e criação de conteúdo que entregaram nas mãos de milhões de usuários ao redor do mundo. Pesquisas[15] demonstram que em 2020, aproximadamente 50% dos sites do planeta sejam desenvolvidos ou mantidos com base na plataforma WordPress. Números tão expressivos não só devem chamar a atenção de estudiosos das ciências sociais aplicadas e das atuais ciências interdisciplinares, como também poderão funcionar como interessante fonte de pesquisa na busca do entendimento do impacto da adoção destas ferramentas inovadoras na Economia da Informação e do Conhecimento.
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[1] Estudos da Radicati: http://www.radicati.com/wp/wp-content/uploads/2015/06/Enterprise-Content-Management-Market-2014-2018-Executive-Summary.pdf
[2] W3Techs — Extensive and reliable web technology surveys. Órgão que tem por objetivo fornecer informações sobre o uso da tecnologia web.
[3] WordPress — O WordPress é uma plataforma semântica de vanguarda para publicação pessoal, com foco na estética, nos Padrões Web e na usabilidade.
[4] Dados obtidos do levantamento mensal da W3Techs.
[5] Dados da W3C: https://w3techs.com/technologies/history_overview/content_management
[6] Dados obtidos do levantamento mensal da W3Techs e da WordPress Org Foudation.
[7] Dados obtidos da WordPress.org.
[8] É um site cuja estrutura permite a atualização rápida a partir de acréscimos dos chamados artigos, ou posts. Estes são, em geral, organizados de forma cronológica inversa, tendo como foco a temática proposta do blog, podendo ser escritos por um número variável de pessoas, de acordo com a política do blog.
[9] https://wordpress.org/about/license/
[11] https://creativecommons.org/licenses/GPL/2.0/legalcode.pt
[12] https://www.gnu.org/licenses/old-licenses/gpl-2.0.html
[13] https://www.gnu.org/licenses/licenses.pt-br.html
[14] https://www.gnu.org/licenses/gpl-3.0.html
[15] Dados da W3C: https://w3techs.com/technologies/history_overview/content_management
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